sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Choice of the Day - L'essentiel est invisible pour les yeux


E foi então que apareceu a raposa:
-Bom dia-disse a raposa.
-Bom dia-respondeu polidamente o principezinho,que se voltou,mas não viu nada.
-Eu estou aqui-disse a voz,debaixo da macieira...
-Quem és tu?perguntou o principezinho.Tu és bem bonita...
-Sou uma raposa-disse a raposa.
-Vem brincar comigo-propôs o principezinho.Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo,disse a raposa.Não me cativaram ainda.
-Ah!desculpa-disse o principezinho.Após uma reflexão,acrescentou:
-Que quer dizer "cativar"?
-Tu não és daqui-disse a raposa.Que procuras?
-Procuro os homens-disse o principezinho.Que quer dizer "cativar"?
-Os homens-disse a raposa-têm fuzis e caçam e criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem.Tu procuras galinhas?
-Não-disse o principezinho.Eu procuro amigos.Que quer dizer "cativar"?
-É uma coisa muito esquecida-disse a raposa.Significa "criar laços...".
-Criar laços?
-Exatamente-disse a raposa.Tu para mim és um rapaz inteiramente igual
a cem mil outros. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim.
Para ti não passo de uma raposa igual a cem mil outras raposas.
Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro.Serás para mim único no mundo.
E eu serei para ti única no mundo...
-Começo a compreender-disse o principezinho...Existe uma flor...eu creio que ela me cativou...
-É possível-disse a raposa.Vê-se tanta coisa na Terra...
-Oh! Não foi na Terra-disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
-Num outro planeta?
-Sim.
-Há caçadores nesse planeta?
-Não.
-Que bom.E galinhas?
-Também não.
-Nada é perfeito-suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua ideia:
-A minha vida é monótona.Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. E por isso aborreço-me um pouco, mas se tu me cativares, a minha vida será cheia de sol.Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. Os teus chamar-me-ão para fora da toca,como se fosse música.
E depois, olha! Vês lá longe,os campos de trigo? Eu não como pão.O trigo para mim é inútil.Os campos de
trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso
quando me tiveres cativado.O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
-Por favor...cativa-me!-disse ela.
-Bem queria-disse o principezinho- mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
-A gente só conhece bem as coisas que cativou-disse a raposa.Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.Compram tudo prontinho nas lojas.Mas como não existem lojas de amigos,os homens não têm mais amigos.Se tu queres um amigo,cativa-me!
-Que é preciso fazer? -perguntou o principezinho.
-É preciso ser paciente-respondeu a raposa- primeiro vais te sentar um pouco longe de mim, assim na relva e eu olharei-te pelo o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, vais te sentar mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
-Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa.Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, às três eu começarei a ser feliz.Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas então,estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!

R.Z.M.

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